Fonte: Diario de Pernambuco
Metalurgia, arquitetura, tecelagem, medicina popular e musicalidade. Você sabia que o berço de todas essas descobertas importantíssimas para o desenvolvimento humano é a África? Se a resposta for negativa, não precisa se preocupar. É que boa parte do conteúdo de história ensinado nas escolas fala apenas sobre a escravidão. O período em que os negros se transformaram em mão de obra do sistema escravocrata do Brasil colonial. Neste ano, o Ministério da Educação (MEC) anunciou que vai cobrar questões sobre a história dos povos africanos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), prova que vai substituir de forma total ou parcial o vestibular das três universidades federais no estado. Serão valorizadas a cultura e a tradição dos negros e a contribuição desse povo para a formação da identidade nacional. O acréscimo do assunto, no entanto, não chega a dar trabalho ao fera. Mas vai exigir uma visão crítica. O aluno deve estar ciente de que antes de ser dominado, o africano vivia numa sociedade com costumes próprios.
Na terceira reportagem da série sobre os novos conteúdos do Enem, o Diario caiu em campo para saber como a questão pode ser abordada no teste nacional. Como o assunto ainda não está nos livros do ensino médio, foi preciso conversar com especialistas acadêmicos, professores e ativistas dos movimentos negros em Pernambuco. De acordo com o primeiro professor de História da África da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), José Bento da Silva, a história africana só passou a ser reconhecida após a didatura militar. "Antes havia uma visão de que o Brasil era formado por três raças e que a história deveria ser contada a partir dessa miscigenação, sem levar em conta a bagagem cultural dos africanos antes de chegarem aqui", informou.
Os escravos influenciaram diretamente a formação do novo país chamado Brasil, ao lado de portugueses e índios. "Os negros estavam inseridos nas casas, no trabalho, no comércio e até nas igrejas, mesmo que estando em posições submissas ao branco", explicou José Bento. E como houve influência! O que dizer da famosa feijoada, prato criado pelos negros? Ou do samba, que tem origens nas rodas dos escravos, ritmo que representa o Brasil no mundo inteiro? Antes de chegar ao Brasil, a maioria dos africanos vivia em reinos e tinha uma tradição oral. Eles dominavam conhecimentos de metalurgia, arquitetura, tecelagem e medicina popular. Culturalmente, desenvolveram o conceito de musicalidade e de expressão corporal, algo novo para os colonizadores europeus. Por meio da dança e da música os africanos trabalhavam e desenvolviam sua religiosidade.
O choque cultural entre portugueses e escravos não foi fácil. Os primeiros faziam valer sua força com armas de fogo e torturas. Os negros resistiam em comunidades chamadas quilombos. O impasse durou quatro séculos. "Hoje existe uma conscientização do que se fez com o negro no Brasil. No passado ele sequer era considerado gente. Na educação, isso foi fortíssimo e perdurou até após a abolição. O descentente de africano foi solto na sociedade sem nenhuma estrutura. Tiraram o negro da senzala e o jogaram nas favelas. Os alunos precisam ter essa consciência", ensinou a professora de história do Colégio Boa Viagem, Luzinete Kurtinaitis.
História africana
l Até o século X, antes da escravidão, a África era dividida em reinos, tinha cultura e organização próprias. Esses reinos eram contemporâneos aos feudos europeus
l A África é o berço da metalurgia
l As noções de navegação no mundo antigo foram desenvolvidas, sobretudo, na Etiópia
l Os africanos foram os primeiros a confeccionar tecidos de algodão
l O Egito é considerado um dos berços da arquitetura
l O conceito de musicalidade (sons e danças presentes em rituais religiosos, de trabalho e de lazer) foi criado na África
l O continente africano aceita a poligamia - casamento com várias parceiras (os). O vasto número de filhos era diretamente ligado ao status do homem
l A escravidão foi iniciada no século XIV. Os africanos foram trabalhar em praticamente todos os continentes antes das abolições, até o século XIX
l Na África moderna, Nelson Mandela lutou pelo fim do apartheid (separação de negros e brancos) na África do Sul
l Assim como em outros países pobres, os países africanos também sofrem com a miséria. O continente luta contra problemas como a má distribuição de renda e a Aids
Como o assunto será abordado no Enem?
l O tema pode cair nas questões de história e geografia, ressaltando a importância dos africanos para a construção da identidade do Brasil
l Os principais ritmos do país (samba, lambada e maracatus) têm influência africana
l O comportamento emotivo do brasileiro é consequência, em parte, do sentimentalismo africano
l Do linguajar africano foram herdadas palavras como "cachimbo", "quitanda", "bengala" e "bumbum"
l A persistência nacional é uma característica da África (resistência dos quilombos)
Fonte: departamento de História da UFPE e equipe pedagógica do Colégio Boa Viagem.
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segunda-feira, 15 de junho de 2009
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2 opiniões:
muito bom
Muito Gylberto Freyre.
Voltamos ao séc XIX com análises racistas.
Herdamos palavras, persistência, comportamento emotivo... O que mais? o sexo também? Logo voltaremos a questão do país tropical.
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